Chamame




sábado, 8 de setembro de 2007

Dino Rocha


Voltar à terra natal é sempre gratificante, mas regressar tendo a oportunidade de prestigiar um dinossauro da música numa festa centenária é primoroso. O "rei" não se apresentava na Festa do Divino Espírito Santo desde o começo dos anos 90 e a cidade de Coxim ansiava por suas melodias chamameceiras.
As portas do Salão Paroquial se abrem, na fila encontra-se uma multidão de baileiros de todas as idades, mostrando que nesta terra o chamamé comanda. O artista sobe ao palco, exibe sua negra sanfona Todeschini Super 8, puxa o microfone e abre seu espetáculo com "Bella Vista".

"Bella Vista, terra querida
Pátria do laranjal
Te canto por te querer

Minha querida terra natal"

Arrepiar e soltar um sapucay, o grito da alma, é natural, assim como sentir saudade de alguém deixando cair uma lágrima no rosto, que mostra-se ser nada mais do que um caminho pro coração. A pista se enche, não é válido ficar parado, "o negócio é chegar e reparar se alguém te aponta, um convite recusado é bem pior do que uma afronta; o segredo é rodar, rodar até perder a conta e não olhar muito ao redor porque a cabeça fica tonta." Nossa majestade segue entoando "Che Rancho Cuê" e "Rancho Boquerón". Dá um suspiro e declama:

Gente de Coxim, com muito prazer e com muita saudade, mais uma vez meu boa noite. Faz muito tempo que o Dino Rocha não vem aqui, mas eu me sinto em casa quando venho em Coxim. Muito obrigado, em nome do Divino Espírito Santo e em nome da festa, pela presença de vocês. Depois vamos conversar mais um pouquinho pra matar a saudade das festas que eu toquei aqui em 1973, 1974 e 1976, mas agora é chamamé.

O show segue com "Añoranzas" e "Obrerita Correntina", entremeado por vários sapucays de entusiastas, dentre os quais está este escritor, e também por uma declaração do sanfoneiro, dizendo que quem tem saudade, tem paixão. Não é que ele está certo? Chegou a hora das rancheiras, ritmo difícil de se dançar, mas os baileiros não desanimam e um casal se destaca no meio do salão; todo o baile se rende ao charme dos esmeros dançarinos. Logo após as rancheiras, a nostalgia toma conta do salão, que ouve, admirado, as canções "Amor Distante" e "Gaivota Pantaneira".

Vai gaivota pantaneira
Revoando o Rio Taquary
Vai mostrar pra quem nunca viu
Passarinhos cantando lado a lado das margens do rio

Vai gaivota pantaneira
Cantando esse Brasil Colosso
Convidar a gente brasileira
Para conhecer o nosso Mato Grosso

O mensageiro chama um integrante da banda, sussurra em seu ouvido, e passado alguns instantes, emenda com o hino da cidade, "Pé de Cedro", do saudoso Zacarias Mourão, que foi um de seus maiores amigos e incentivadores. Ele se despede, emocionado, prometendo voltar. A cidade o interrompe, ovacionando-o e lhe entrega uma homenagem em forma de papel.

É com muito prazer que entrego esta moção de congratulação ao meu ídolo, o rei do chamamé, da polca, das guarânias, do entretenimento, do Mato Grosso do Norte e do Sul.
Aquele que mais bem expressa nossos sentimentos e nossa sentida saudade.
Tocou hoje em Coxim, o mensageiro do Rio Taquari, amigo do Pé de Cedro, pai da Gaivota Pantaneira, consagrado como o maior sanfoneiro de todos os tempos, a majestade, Dino Rocha.

Fernando Henrique Fontoura
21/07/2007


0 Chamame:

Postar um comentário

<< Chamame